Vamos falar sobre o que nos divide?
- Calúzia Santa Catarina
- 17 de set.
- 3 min de leitura

Talvez você já tenha ouvido (ou até mesmo dito) que o feminismo é exagero, que hoje em dia tudo é “mimimi”, que basta uma mulher querer sair de um relacionamento abusivo para conseguir, ou ainda que os homens mudam fácil, se quiserem. Pode ser que você acredite que as leis favorecem mulheres e que o discurso da “masculinidade tóxica” não faz sentido.
Eu entendo esse olhar. Faz parte da forma como muitos de nós fomos educados, das histórias que escutamos e até das experiências que vivemos. Mas será que só existe uma forma de enxergar as coisas? Será que olhar do outro lado do muro poderia nos tornar mais humanos?
Não é guerra de sexos, é busca por equilíbrio

O feminismo, muitas vezes, é visto como o oposto do machismo. Mas não é isso. Enquanto o machismo coloca homens em posição de superioridade, o feminismo busca igualdade. E quando falamos em igualdade, falamos de coisas muito concretas:
Mulheres ainda ganham, em média, quase 20% a menos que homens em funções iguais, segundo dados do IBGE.
No Brasil, elas dedicam quase o dobro de horas semanais ao trabalho doméstico e de cuidado não remunerado.
Não se trata de culpar os homens como indivíduos, mas de reconhecer que vivemos em uma estrutura que favorece uns e sobrecarrega outras.
O peso do machismo também sobre os homens
Se por um lado as mulheres sofrem com a desigualdade, por outro, os homens também pagam um preço alto. O modelo de masculinidade que aprendemos valoriza força, dureza e silêncio. Não chorar, não pedir ajuda, não demonstrar fragilidade.
As consequências aparecem nos números: os homens morrem mais cedo, se envolvem mais em acidentes, têm índices mais altos de dependência de álcool e outras drogas e são a maioria nos suicídios. Não porque “nasceram assim”, mas porque a forma como aprendemos a ser homens cobra caro.
Será que não estamos todos perdendo quando aceitamos esse jeito engessado de ser homem ou mulher?
Mitos que merecem um olhar mais atento
De fora, pode parecer simples:
“Se uma mulher apanha, é só sair de casa.” Mas pesquisas mostram que, em média, uma mulher leva sete tentativas para romper um ciclo de violência. E não é por fraqueza: envolve dependência econômica, medo, filhos, ameaça constante.
“Homens mudam fácil, basta querer.” Grupos reflexivos com homens autores de violência mostram que a mudança não é automática. Requer acompanhamento, tempo e um espaço seguro de reflexão.
“As leis favorecem as mulheres.” Apesar da Lei Maria da Penha, uma mulher é vítima de violência a cada 8 minutos no Brasil. Os dados mostram que a proteção ainda está muito distante da realidade.
O que parece escolha simples, quando olhamos de perto, se revela um emaranhado de medos, pressões e estruturas sociais.
Olhar do outro lado do muro
Se ficamos apenas no nosso quintal, vemos parte da história. Mas quando atravessamos para o outro lado do muro, percebemos que a luta por igualdade não é mulheres contra homens. É todos nós contra uma cultura que gera sofrimento, desigualdade e violência.
Talvez o convite seja esse: olhar um pouco além do que parece óbvio. Escutar sem pressa. Permitir-se considerar que há mais de uma versão da mesma realidade.
No fim das contas, a luta por igualdade é sobre criar um mundo em que possamos viver com mais liberdade, dignidade e menos violência, mulheres e homens.
E agora, seguimos juntos?

Esse texto não pretende encerrar o assunto, mas abrir conversas. Eu adoraria saber o que você pensa: quais pontos ressoaram, quais causaram incômodo? O diálogo é sempre mais rico quando acolhe diferentes vozes.
E se você viveu ou vive situações de violência, ou se essas reflexões despertaram algo difícil, saiba que não precisa passar por isso sozinho(a). Buscar apoio é um passo de coragem. A psicoterapia pode ser um espaço para elaborar, refletir e encontrar novas possibilidades de vida.
Escrevo porque acredito no poder do diálogo e no cuidado com as pessoas. Se esse tema mexeu com você, quero que saiba que há caminhos possíveis. E se quiser compartilhar sua experiência ou buscar apoio, estarei por aqui para ouvir.