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Se hoje é piada, amanhã pode ser violência: o limite no primeiro sinal

  • Foto do escritor: Calúzia Santa Catarina
    Calúzia Santa Catarina
  • há 2 dias
  • 3 min de leitura
Respeito não é exagero: a importância de dizer basta desde o início


Peças de dominó caindo em sequência após o toque de um dedo, simbolizando como um pequeno ato pode gerar grandes consequências.
Um pequeno empurrão pode desencadear uma queda em série. Assim também é com a violência: começa com sinais sutis e vai crescendo.

Vivemos em uma sociedade que, muitas vezes, ridiculariza dores e silencia vozes. Quantas vezes já ouvimos expressões como “isso é mimimi”, “hoje tudo é preconceito” ou “estão exagerando”? Esse tipo de discurso deslegitima experiências reais e profundas: a violência contra mulheres por serem mulheres, o racismo disfarçado de piada, a homofobia mascarada de opinião, o sexismo escondido em “brincadeiras inocentes”.


O problema é que não se trata apenas de palavras soltas. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2023) mostra que a violência psicológica é a forma mais comum de agressão contra a mulher, geralmente antecedendo a violência física.


Quando uma piada ou um grito é tolerado, abre-se espaço para que outros limites sejam testados.


Do ponto de vista psicológico, normalizar pequenos desrespeitos tem um efeito silencioso, mas profundo: a pessoa passa a duvidar de si mesma, questiona se “não está exagerando”, e assim vai perdendo a confiança na própria percepção.


Esse processo de autossilenciamento fragiliza a autoestima e facilita a repetição do ciclo de violência. Colocar limites logo no início, portanto, não é radicalismo, é autocuidado e prevenção.


O que você tolera no começo, cresce no fim: por que impor limites protege



Copo de água com fatia de limão, transbordando após impacto, representando como o acúmulo de pequenos atos pode gerar excesso.
O que parece pouco no início pode, ao longo do tempo, transbordar. Pequenos desrespeitos acumulados tornam-se grandes dores.

É nesse ponto que cabe uma reflexão que costumo propor no consultório: melhor pecar pelo excesso do que pela falta. Porque, se alguém não valida suas falas, seus sentimentos e suas preferências no começo de uma relação, é muito provável que continue assim.


Aqui entra algo fundamental: dialogar. Expor como você se sente, dizer quando algo te machuca, e observar se a outra pessoa se abre para ouvir. É nesse movimento que descobrimos muito: a reação do outro pode revelar mais do que palavras.


Se ele ou ela escuta, reflete e se mostra disposto a mudar, há espaço para construção. Mas se responde com indiferença, ironia ou raiva, talvez esteja aí o sinal mais claro de que essa relação não te considera.


A pesquisadora Judith Herman (1992), especialista em trauma, fala que reconhecer e nomear o que sentimos é o primeiro passo para quebrar ciclos de violência. Já a OMS (2021) reforça: as relações saudáveis se sustentam em respeito mútuo e comunicação.


Se hoje é piada, amanhã pode ser violência



Fósforo queimado entre outros intactos, representando desgaste e alerta sobre como algo pequeno pode virar destruição.
A violência raramente começa de forma escancarada. Ela se insinua em pequenos gestos, em palavras que parecem inofensivas. Mas, assim como um fósforo aceso, pode se espalhar e deixar marcas profundas na subjetividade.

Na prática, isso significa se posicionar no primeiro grito, no primeiro objeto jogado, na primeira piada que te deixou desconfortável. Não porque você é radical, mas porque merece ser considerada desde o início.


Fernando Pessoa escreveu: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena.”Eu arriscaria dizer: tudo deixa de valer a pena se a alma é diminuída. E cada vez que aceitamos um desrespeito, é a nossa alma que vai encolhendo.


Então, te pergunto: e se, ao invés de esperar a violência crescer, a gente colocasse limites já no primeiro sinal? Será que não seria um jeito de proteger não só a si mesma, mas também a possibilidade de viver relações verdadeiramente recíprocas?



E mais:


Qual foi a última vez que você engoliu um incômodo por medo de parecer exagerado(a)? Que mensagem esse silêncio passou para o outro e, principalmente, para você?

 
 
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