Homens, esse texto também é para vocês
- Calúzia Santa Catarina
- 10 de set.
- 3 min de leitura

Quando você escuta “violência contra a mulher”, pode achar que é um problema que diz respeito só a elas. Mas isso não é verdade. A violência tem raízes na forma como somos educados e, por consequência, todos nós temos um papel (e uma responsabilidade) nisso.
A masculinidade tóxica nasce cedo. Associamos virilidade a dureza, silêncio e domínio. Essa máscara adoecedora se aprende em piadas, nos exemplos que repetimos sem perceber e em referências masculinas que moldam nosso ser.
A revista Educação (2025) lembra que masculinidade tóxica não significa que “ser homem é ruim”, mas que existem padrões culturais prejudiciais tanto para os homens quanto para quem convive com eles.
Muitos meninos crescem sem modelos saudáveis. Uma pesquisa realizada pelo Instituto PDH e Papo de Homem, com apoio da ONU, mostrou que 6 em cada 10 meninos não têm uma referência positiva de masculinidade. E, segundo o Correio Braziliense, metade dos adolescentes não têm certeza de que são amados pelo pai, especialmente entre meninos negros, que sentem ainda mais intensamente essa ausência de afeto.
Piadas “inocentes” também podem ferir. Quando reforçamos que “pegar muitas mulheres” é algo bom para os homens, mas ruim para as mulheres, perpetuamos um sistema machista que legitima desigualdades. Além disso, não sabemos o efeito real que uma brincadeira pode ter em quem escuta: o que para mim é riso, para outra pessoa pode ser humilhação ou vergonha.
Masculinidade tóxica: da cultura às relações cotidianas

A masculinidade tóxica começa no macro: nas expectativas culturais sobre o que significa “ser homem”. Desde cedo, muitos meninos aprendem que precisam ser fortes, duros, competitivos, heterossexuais, provedores e que não podem demonstrar sentimentos. Essa construção social molda a forma como eles se enxergam e como se relacionam com o mundo.
Mas o que está no macro não fica apenas nas ideias, ele se traduz no micro, no dia a dia: no grito para impor autoridade, na grosseria usada como se fosse franqueza, na chantagem emocional para manter controle, ou mesmo nas piadas que ridicularizam mulheres e outros homens.
O que parece só “cultura” ganha corpo em atitudes que ferem, silenciam e, em alguns casos, viram violência explícita.
E aqui há um ponto importante: mesmo os homens que não se encaixam nesse padrão também sofrem. O rapaz mais sensível, o que não é competitivo, o que prefere o cuidado ao confronto, ou o que expressa suas emoções, todos correm o risco de serem chamados de “fracos”, “menos homens” ou de sofrerem exclusão. Essa pressão gera vergonha, solidão e adoecimento emocional.
O resultado é um ciclo que afeta diretamente as convivências: homens se sentem pressionados a provar constantemente sua virilidade, mulheres são colocadas em posição de objeto ou de controle, e as relações acabam marcadas pela desigualdade.
Assim, o que parece apenas uma ideia cultural distante, na prática, alimenta tensões, silêncios e até violências dentro das casas, dos casais e dos vínculos mais íntimos.
As consequências do silêncio

Suprimir emoções tem um preço alto. O Instituto Papo de Homem, em parceria com a ONU Mulheres, revelou que 7 em cada 10 homens aprenderam a não demonstrar fragilidade. Isso os leva a enfrentar solidão e sofrimento em silêncio.
A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) aponta que essa cultura contribui para que os homens tenham expectativa de vida quase seis anos menor que as mulheres, com taxas mais altas de suicídio, mortes violentas e acidentes.
Caminhos para a mudança

A transformação é possível.
Experiências como o Programa H, criado pelo Instituto Promundo, têm mostrado que rodas de conversa e oficinas podem abrir espaço para novas formas de masculinidade, mais cuidadosas e respeitosas.
Ouvir relatos também nos ajuda a enxergar o peso dessa cultura.
Em uma discussão no fórum Reddit, um homem relatou: “Incontáveis vezes fui reprimido com a frase ‘coisa de viado’… durante muito tempo isso gerou insegurança pra mim.” Outro acrescentou: “O inimigo mais provável é a própria masculinidade… isso cria uma sensação de insuficiência e pressão.”
O convite ao diálogo
Se você se identificou com algum desses padrões, não se culpe. Se permita enxergar. E, sobretudo, se permita mudar. Dialogar, revisitar suas atitudes, buscar apoio, espelhar-se em relações saudáveis e, a cada dia, construir uma masculinidade baseada em respeito, empatia e consciência.
Essa é uma escolha corajosa, eficaz e transformadora.